Eis o inverno descontente nosso
Verão tornado co’o varão de York.
E as nuvens nossa casa a ameaçar,
Sob profundo oceano sepultadas.
Eis a guirlanda do êxito na testa,
As armas rotas pendem, monumentos,
O duro alarme cede a convescotes,
Terríveis marchas a bailados lépidos.
A guerra alisou crispada face,
E em vez de cavalgar corcéis armados,
Fera alma do inimigo a aterrar,
Saltita numa alcova mulheril
Ao titilar lascivo do alaúde.
Mas eu não fui talhado a travessuras
Nem feito a cortejar amado espelho;
Eu sou forjado mal, do amor sem garbos
Pr’a me pavonear à ninfa cúpida;
Eu que vetado fui das belas formas,
Graça, Natura ma furtou matreira.
Disforme, inconcluso, prematuro
Vindo a viver metade feito ou menos,
E isso manco e repulsivo tanto
Que cães ao ver o meu coxeio ladram;
Pois eu, ao flautim débil paz trilando,
Deleite falta-me a gastar o tempo
Não sendo ver a sombra minha ao sol
E ao próprio aleijão interpretar.
E assim, amante não podendo ser
P’ra aproveitar tais belos dias prósperos,
Eu me resolvo a um vilão tornar-me,
Ter ódio às diversões de hoje em dia.
Deixe um comentário